Você lambe os beiços de cima a baixo e o líquido vermelho te escorre nos seios pelo queixo. Você me sorri teus dentes. Teus olhos
grandes. Teu cabelo curto. Você nunca me pareceu tão bonita. Quando penso que
acabou, chega mais uma. Cor de índia. Ela rodeia. Estou ajoelhado na terra
batida. O céu é roxo avermelhado. Sinto o cheiro forte da carne. Ela tem fome mas,
antes que comece, é você quem dá uma nova mordida no meu ombro esquerdo, que
parece ser teu lugar. Você me perguntou se
eu já tinha chorado fazendo amor, eu me perguntei se para ser homem é preciso
ter olhos fundos.
A índia também sabe o que fazer. Eu a conheço. Ela chega por
trás. Cheira. E ataca a lateral do meu abdômen. As duas mordem ao mesmo tempo. Fecho
os olhos e sinto que vou desmaiar. Anseio pelo desmaio. Mas não. Vocês sempre
foram precisas. Param no limiar. E começam de novo. Meus braços estão para
trás. Quero mover e não consigo. Levanto a cabeça. Quem amarrou minhas mãos?
Você se demora na dentada. Nunca te vi satisfeita. Você me contou que prendia a respiração antes de gozar. Eu te contei
que já tinha matado.
A terceira que chega é inventiva. Magra, clara, cabelos
longos. Roça as unhas grandes pela minha nuca, aperta meu pescoço com uma das
mãos e empurra minha cabeça. Vou de cara na terra. Ela continua me empurrando e
apertando pela nuca. Depois morde minha nádega como se fosse pão caseiro. Minha
mente vai longe. Você tinha cheiro de
morte, e eu cheirava quieto, no teu pescoço, nos teus poros.
Sinto o ardor alastrando da nádega para as pernas. A dor é
insuportável. Penso no mar dissolvendo o espaço em espumas e tudo se torna branco. E escuro. Ela
levanta minha cabeça e, cuidadosa, limpa meus olhos com a língua. Volto a ver e
sinto um calafrio. Outras estão chegando. Você
me tomando o ar. Eu nunca disse das vezes que você me entrava tão fundo que
eu tinha medo de vomitar. Nem que eu seria exatamente aquilo que você queria matar.
Sim. Eu as reconheço. Que belo banquete! Eu nunca havia me
esquecido dos seios grandes daquela ali. Ela se aproxima. Eu não sei por onde
ela vai começar. Ela procura um lugar, mas vacila. Você olha e tua expressão
fecha. Você toma a frente e não tem dúvida, morde minha barriga. Ela dá um
passo atrás. Eu te chuto longe. Eu quero te matar. Você melando tudo e me tragando na tua
floresta, então o jogo da vida
vinha duro, você me olhava e eu não podia, e você insistia e eu era silêncio você
insistia, queria, então
teus olhos ficaram grandes e você disse assim me esmagando um pernilongo contra
a parede branca - você nunca será escritor, porque você tem medo dos mortos.
Solto um grunhido e mostro meus dentes grandes. No chão, você
se afasta mais. Tua veia salta no pescoço. Eu vou te matar! Bato a cabeça forte
no nariz da loba de seios grandes que não sai do meu lado. Ela uiva o
nariz quebrado. Levanto na tua direção. A veia saltada no teu pescoço. Abro a
boca com os dentes cerrados. O cheiro do
teu susto é o mesmo de quando eu disse que ia te deixar. Teus pelos de loba eriçados. Eu vou te matar. Caio
de costas. Estou amarrado. A corrente não chega longe. As outras não parecem
entender. Você me olha com desdém. Se aproxima de quatro, devagar. Você fecha
as presas em mim e puxa com violência. De
novo na minha barriga. O rasgo agora é enorme e minhas tripas saltam. Você
começa a comer. Urro de dor. Tento me desatar com violência. As outras me
seguram para você. Quem é o leão? Você curva as pernas nuas e mija na minha
frente. Sinto os respingos. As outras não se movem. Sinto o suor gelado na minha nuca, na minha testa. Você continua
com as minhas tripas. Queria morder a
vida, e quem quer vida também quer morte, e você, querida, queria tudo.
Elas esperam. Você se
afasta. Elas comem o resto. Sinto uma convulsão, meu corpo todo treme, o olho
arregala, caio e gozo, gozo como nunca, gozo na terra poeirenta, a porra
branca onde nascerá o baobá. Elas acabam o trabalho e logo não há mais ninguém.
Minhas mãos ainda amarradas. Quem as
amarrou? Sim. Eu me lembro. Fui eu
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