Todos os
filhos que
perdemos e
os que criamos
um peso
pluma
sentido ao final
à véspera da
grande explosão
que nos dissipará
desses corpos
concentrados
pelos cantos de pássaros e
campos de tangerina
o perfume do caminho
pode ser de
mato ou
mijo e
tenho pedido a Rá
o poder de despertar
os deuses pela
neblina da
manhã
apenas para rir ao
vê-los acordando de
olhos pesados e
remelentos
tristes e felizes por
todos os dias dançarem para
que saibamos que
existem coisas
a mais
os deuses
coitados
dependentes de danças e
crenças de corpos que
batem tambores e
tremem
diante da
verdade
se eu pudesse falar
a língua das
plantas
talvez fosse melhor para
meus amigos
com quem
discuto pelo
preço das corridas
de carro e
o significado da arte e
a ansiedade de
quem anda depressa e precisa
suportar corpos
egoístas e sonhadores
como o meu
coitado dos
deuses que
precisam de corpos que
mijam nas camas e
se perdem no brilho do
que lhes parece imutável como
o ouro que
pode ser tudo
menos a vida
por que é tão
difícil amar
a cidade onde
vivemos? Por que
o fio da vida é
tão fino se
tudo é tão infinito
e denso?
se os deuses enxergam as
estruturas e
grandes escalas a
eles fica o peso
do tédio
nós
que tão pouco vemos e que
tanto intuímos somos
os convidados à
infinita
criação