encontro

a voz da minha boca não é exata-
mente a da minha
mente

boca

mente a da minha

a voz da minha mente não é exata-

Espelho

E dizemos que sim

que vai ficar bem

mesmo diante

do espelho quebrado

do exame positivo

da prateleira de remédios

da impossibilidade

de dizer tudo

viver tudo

que não tenha sido
vivido

saber do fim
não nos altera
só nos torna alguém
com uma data
um pouco mais
aproximada

pássaros

Saio do show, caminho 3 quadras para frente, quatro para trás, estou na frente do seu prédio, no teu caminho na esperança funda de te encontrar na porta, na calçada, a chance disso acontecer é a mesma de darmos certo, repito enquanto toco o maço de cigarro, eu não sei, talvez seja o medo de dormir sem toque, talvez  tudo se renove num novo encontro, mas tem sempre a memória, a história antes dessa história, e respondemos pelo que fomos e não pelo que desejamos, uma traição, uma agressão, um corte no diálogo

1 corpo

        fechado um dente

                        cerrado 1

                    rispidez são

tantos

     os elementos que

     espantam o amor

     1 pássaro

                 você diz

que espantamos

     enquanto gritávamos.

O perigo de

se habituar

ao amor é

não saber

se ele foi ou

ficou

é engraçado ainda que devesse meu tempo não parece assim tão linear

rabo

cadê o público

pagante

o artista ouve

do dono

do dinheiro

o artista

tão mesquinho

bastava ouvir

é bom, seu trabalho

para abanar

o rabinho

escritor coitado

a cada livro vendo
a alma
cada vez mais
barata

76

escrevo despedidas ausências

pedem ser preenchidas com

ficção qual

mesmo é meu papel

na história a

septuagésima sexta vez que você diz

não dá mudando

um pouco a forma estamos sempre

dizendo a mesma coisa mudando alguma coisa

na forma foda-se o conteúdo ele também

se altera pela forma eu

assisto quase calado até

que alguma coisa muda tragédia

suficiente pra partida tem

que ter sangue nada acaba sem

sacrifício o

desejo permanece a

pele é sempre a última

a saber