sexta-feira, novembro 10, 2017

patuá




eu fiquei muito espantada quando me disseram que o espeto no vodu era para proteção porque eu sempre pensava em espetar o vodu na cara daquela vaca, e vi que não, então eu quis um bonequinho e tava andando na rua deslizando o sapato em dia de chuva vai que nem sabão e fui cai dei de cara com ele, o vodu, na vida a gente dá mesmo de cara com o que precisa, ou pelo menos com o que deseja, porque desejar fundo é precisar, e eu me levanto sem a ajuda de nenhum desse povo que passa só pensando em se proteger e pisa cinco corpos e sete estrelas sem saber de nada e então levanto sozinha e ajeito o vestido no corpo fazer o quê com a sombrinha escangalhada o que importa é o boneco na minha mão ele é você é o que ele disse quando falava de vodu Seu Zezinho que sabia de orixá e de ponto firmado na macumba. Valda, você ainda vai ser feliz ele dizia e sorria enquanto me pedia para chupar o pé de manga que dava ali no quintal.

Ora  se lá sou mulher de manga, eu dizia, mas o que importa é estocar o alfinete e eu sei lá qual  o lugar do corpo que mora minha fraqueza, porque se fosse de fraqueza já tinha rachado, mas tem uma coisa assim na garganta que vem quando penso longe e arfo o peito desanuvio no pensamento lembrando longe de você, que faz querer rachar os dois mundos o daqui e o outro para onde você foi então espeto a garganta bem no soluço que subia e que agora irá descer e deixo o boneco logo ali, caso algo trema na carne.

De alfinete é feita a saudade  


quarta-feira, novembro 01, 2017

g


ela treme
e sofre e
se apequena
se você
não souber
olhar
e então
(a olhando
por trás)
suas roupas
rasgam para
asas enormes
e negras
eu te amo
eu digo
para que ela nunca
se esqueça como
voltar