Estou sentado na
sala de espera. O chão branco, um mármore que brilha, quase um espelho. Na
minha frente um sofá com outros dois. Um homem e uma mulher. Eles olham o
celular. Movem os dedos. Como se olhar o celular resolvesse alguma coisa. Bom. Talvez
resolva. Talvez essa forma de não olhar seja alguma coisa. Enquanto isso,
esperamos. No mesmo lugar. Na mesma sala. Mas não juntos. É estranho. Olho para
a direita e, na sala contígua, em cima da poltrona, ele está sentado.
Papai Noel. As mãos imóveis, vestidas com luvas brancas. A da direita levantada
como se cumprimentando quem chegasse. Um cumprimento eterno, como se
cumprimenta quem entra num lugar de onde não irá sair. A mão esquerda
carrega um saco dourado. Não sei o que significa. Talvez o segredo da vida. Eu
tentei esperar da minha sala. Enquanto trabalhava. Acho mais fácil esperar
enquanto movo as mãos. Digitar. Escrever. Mas não. Não consegui
ficar nem por cinco minutos. Eles telefonaram e me chamaram de volta, para eu esperar
aqui, nessa sala, nessa poltrona, olhando esses outros dois.
O tempo passa. Quer dizer. Não passa. Uma senhora de cabelo cinza azulado entra na sala, nos cumprimenta, senta no último lugar vago do sofá e começa a mexer no celular. Mais uma hora. A senhora se levanta e sai. Há uma câmera na parede direita. Não aguento mais olhar o Papai Noel, o abajur, a janela. Não aguento mais trocar frases com esses dois. Eles estão nervosos e falam do prazo dos trabalhos que têm que entregar.
Finalmente, uma voz ecoa: Helena, Fernando e Marcos. É uma voz de mulher. Nos levantamos de pronto, prontos para entrarmos. Mas não. Antônio aparece na sala. Engraçado. Eu nunca o tinha visto vestido assim, de modo tão formal. Acho que é um fraque o que ele veste. Preto, com alguns detalhes, como a gravata, em vermelho. Antônio veste luvas brancas e traz uma bandeja prateada, coberta por mais prata. Nós já entendemos. E voltamos a nos sentar. Ele se aproxima de Helena e abre a bandeja. Vejo uma arma preta. Não entendo muito de armas, mas parece um trinta e oito. Pensei que a solenidade seria mais cara. Helena, que já é clara, fica ainda mais pálida e olha para Antônio. Ele confirma com a cabeça e aproxima a bandeja. Ela treme tanto que mal consegue segurar o cabo de madeira. O tambor está aberto. Ela respira, gira, fecha e aponta para a própria cabeça. Antônio tem os olhos fixos. Ela aperta o gatilho. Silêncio. Antônio não espera. Pega a arma das mãos de Helena e põe nas de Fernando. Ele não quer pegar. Antônio dá um tapa forte na cara de Fernando, que começa a chorar. Sinto, acima de tudo, enfado. O mesmo que sinto em casamentos. Formaturas. Não há saída. Fernando levanta a arma e aponta para a própria cabeça. Miolos na janela, eu penso. Mas não. Fernando abre os olhos e pode acreditar. Está vivo. Eu nem espero Antônio. Levanto da poltrona e pego a arma das mãos de Fernando. Antônio fica nervoso, mexe as pernas e os braços dentro do fraque. Atropelo a solenidade. Aponto a arma para a minha cabeça. O caralho! Aponto para Antônio. Ele leva as mãos à frente e sinto muita, muita vontade de atirar. Ele corre na direção do sofá. Aponto para ele, para Helena, para Fernando. Você está louco, ela grita. Foda-se, eu penso. Levanto. Disparo. Pouf. Acerto a cabeça. A testa do Papai Noel. Acho que esse não será um bom Natal. Um som alto corre a sala. Os alarmes estão ligados. Corro em direção à saída. Ouço passos apressados no corredor
O tempo passa. Quer dizer. Não passa. Uma senhora de cabelo cinza azulado entra na sala, nos cumprimenta, senta no último lugar vago do sofá e começa a mexer no celular. Mais uma hora. A senhora se levanta e sai. Há uma câmera na parede direita. Não aguento mais olhar o Papai Noel, o abajur, a janela. Não aguento mais trocar frases com esses dois. Eles estão nervosos e falam do prazo dos trabalhos que têm que entregar.
Finalmente, uma voz ecoa: Helena, Fernando e Marcos. É uma voz de mulher. Nos levantamos de pronto, prontos para entrarmos. Mas não. Antônio aparece na sala. Engraçado. Eu nunca o tinha visto vestido assim, de modo tão formal. Acho que é um fraque o que ele veste. Preto, com alguns detalhes, como a gravata, em vermelho. Antônio veste luvas brancas e traz uma bandeja prateada, coberta por mais prata. Nós já entendemos. E voltamos a nos sentar. Ele se aproxima de Helena e abre a bandeja. Vejo uma arma preta. Não entendo muito de armas, mas parece um trinta e oito. Pensei que a solenidade seria mais cara. Helena, que já é clara, fica ainda mais pálida e olha para Antônio. Ele confirma com a cabeça e aproxima a bandeja. Ela treme tanto que mal consegue segurar o cabo de madeira. O tambor está aberto. Ela respira, gira, fecha e aponta para a própria cabeça. Antônio tem os olhos fixos. Ela aperta o gatilho. Silêncio. Antônio não espera. Pega a arma das mãos de Helena e põe nas de Fernando. Ele não quer pegar. Antônio dá um tapa forte na cara de Fernando, que começa a chorar. Sinto, acima de tudo, enfado. O mesmo que sinto em casamentos. Formaturas. Não há saída. Fernando levanta a arma e aponta para a própria cabeça. Miolos na janela, eu penso. Mas não. Fernando abre os olhos e pode acreditar. Está vivo. Eu nem espero Antônio. Levanto da poltrona e pego a arma das mãos de Fernando. Antônio fica nervoso, mexe as pernas e os braços dentro do fraque. Atropelo a solenidade. Aponto a arma para a minha cabeça. O caralho! Aponto para Antônio. Ele leva as mãos à frente e sinto muita, muita vontade de atirar. Ele corre na direção do sofá. Aponto para ele, para Helena, para Fernando. Você está louco, ela grita. Foda-se, eu penso. Levanto. Disparo. Pouf. Acerto a cabeça. A testa do Papai Noel. Acho que esse não será um bom Natal. Um som alto corre a sala. Os alarmes estão ligados. Corro em direção à saída. Ouço passos apressados no corredor