sexta-feira, dezembro 01, 2023

passagem

 como a carne da vida

e meus pés

sempre caminhando

pelo tempo

se enchem

de saudades

como a carne

da vida

e os pés

que dançam pelo tempo

estão cheios

de vontade

sexta-feira, março 17, 2023

Argila carvão

 Raspar o rosto

cavar a máscara

o fundo de argila

e carvão


Os minérios

os minerais

nossos avós

dessa composição

antiga

que somos nós


Escavo mais

e encontro

ponteiros

e engrenagens


Nos dias difíceis

um cuco

me salta

a cara

e volta

à testa


CU

CO


ele diz

e penso

que o difícil

é a espera

o entretempo


O saber

no tempo

que é preciso

dar tempo


As transformações

os processos

mais ou menos

suaves

e ásperos


Por que é tão

difícil

aquilo que

não é

na hora?


As negociações

e Iroko ali

com seu pano

branco

impassível

o olho que tudo

raiz e

comunicação


Reconecto as

engrenagens

guardo o cuco

na testa


Saber o que

fazer com

o tempo

enquanto se

um tempo

é saber 

a própria

vida


E depois de

perceber

o difícil

é sempre

agir


De todos

os acordos

o da vida

tudo é só

1 vez

sol



quinta-feira, março 09, 2023

A testa

 Casca relampiosa

que traz o brilho

de outros tempos

testa herança

tanto de pai

quanto de mãe

muitos olhos

compondo

um 3º

olho

 

Imaginei-me

com a casca

toda de pixe

pra mergulhar

no tempo

na materialidade

que vivo

o plástico

em todo lugar

meu

seu corpo

a água

petróleo

tudo plástico

o peixe

na minha

cara

mas não

não passo

para não tirar

o brio

o brilho

da testa grande

o olho

oleoso ou

relampioso

a antena

desde sempre

sintonizada

e vocês

 

 

 


sábado, fevereiro 05, 2022

constelações

 

hoje descobri que

 o centro da terra

está se apagando

antes do que

imaginávamos

é provável que

o sol também esteja

queria te dar

essa notícia mas

falei das minhas mãos

das marcas de sol

que a estão impregnando

antes que eu

imaginava

como acontece às

pessoas que

envelhecem

sobre a terra, lembro

de minha avó das

mãos manchadas que

eu gostava de beijar

depois dela beijar as

minhas, de menina

hoje tem 1 ano que

você partiu e

sei que devia falar

de coisas bonitas e

metafísicas do tipo

meu corpo como a terra

carrega um centro de

energia que

está se dissipando e

isso se repete no sol e

no universo e, esse

senso de harmonia e

repetição traz

algum alento como

se eu fosse eu e

também parte de

1 processo universal

´penso também nas coisas que

dissemos sobre o amor e

ciúme e

posse e

sobre como viver o hoje

com toda a

liberdade sem

peso nem manchas são

insights bonitos como

os do universo no

entanto você segue perto e

distante como

o sol

olho minhas mãos manchadas com

 constelações de saudade e

só penso se haverá tempo de 

você mais uma vez

aqui


terça-feira, julho 28, 2020

rochas



meus heróis
morrem velhos
eles precisam
estar aqui
para escrever
e quase nunca
escrevem sobre
cabelos brancos
(quando lhes sobram cabelos)
ou costelas frágeis
nem sobre
serem destratados
em filas
de hospitais
eles escrevem
da casa
de vida
de morte
e da revelação
que é escrever
da tristeza
da mágica
eu gosto
quando me contam
do lado
de lá
1 dia
ouvi
que nossos
ancestrais
são pedras
as rochas
os minérios
o carvão
e desde então
é comum
enxergar
minha avó
quando vejo
algumas pedras
aquelas
de formato maior
com 1 corpo que
aguenta tudo:
3 filhas
1 marido morto
1 neta escritora
minha avó
foi o eixo
da família
e desde que
parou
de escrever
a família toda
orbita
perdida
no espaço
não se encontra
nem no natal
para o peru
às vezes
vejo plantas
verdes
em cima
das pedras
e me lembro
dos cabelos
enrolados
de minha avó
e sempre
que preciso
escrever
penso nela
na avó a
fonte
de toda a
escrita e
penso que
toda a escrita
e a tinta e
as árvores
derrubadas
valem menos
que você
aqui